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Pelo Bem da Humanidade

Como o totalitarismo levou o mundo
à Segunda Guerra Mundial

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“Onde quer que haja adoração de animais, ali existirá sacrifício humano”.

Atualizado: 14 de jul. de 2022

O totalitarismo do regime nazista foi bem-sucedido em deslocar a compaixão natural do homem pelo semelhante para o reino animal. Adolf Hitler e outras lideranças, como Hermann Göring e Heinrich Himmler, baixaram uma profusão de leis de proteção à natureza, concedendo mais defesa aos animais no Reich do que em qualquer outro grande país.


Em abril de 1933, quase imediatamente após a promoção de Hitler à chanceler, o Parlamento começou a aprovar legislações que proibiam o sacrifício de animais sem anestesia prévia, regulando o corte de orelhas dos cães e do rabo dos cavalos, e até o abate de aves e sapos. Decretaram-se normatizações quanto ao uso dos animais na sociedade, incluindo os sets de filmagens e eventos públicos. A punição aos infratores variava do pagamento de multa até dois anos de cadeia.[1] Em julho de 1933, uma lei draconiana proibiu a caça da raposa na Alemanha, pois Hitler considerava “antiesportivo” o uso de cães para matar outros animais.[2] Joseph Goebbels escreveu em seu diário:


“O führer é profundamente religioso, malgrado completamente anticristão, enxerga o cristianismo como um sintoma de decadência. É verdade. É um ramo da raça judaica [...] Ambos [judaísmo e cristianismo] não têm ponto de contato com o elemento animal, e assim, no final, eles serão destruídos. O führer é um vegetariano convicto por princípio”.[3]

Jacqueline Morgenstern, de apenas sete anos em Paris (1940). Quatro anos depois Jacqueline foi internada pelos nazistas no campo de concentração de Neuengamme, onde foi submetida a experimentos médico, inclusive a inoculação do bacilo da tuberculose. Foi executada em abril de 1945, ao lado das demais crianças sobreviventes, pouco antes da libertação do campo pelas tropas Aliadas. (Crédito da imagem:  USHMM, New York).
Jacqueline Morgenstern foi internada pelos nazistas no campo de concentração de Neuengamme, onde foi submetida a experimentos médicos, inclusive a inoculação do bacilo da tuberculose. Foi executada em abril de 1945, ao lado das demais crianças sobreviventes, pouco antes da libertação do campo pelas tropas Aliadas.


Goebbels mencionou os planos de Hitler em banir todos os abatedouros da Alemanha e das terras conquistadas, uma vez finda a Segunda Guerra Mundial. Na Prússia, ainda em 1933, proibiu-se a vivissecção, fundamental para estudos científicos na Medicina, testes de novos remédios e cura de doenças. Em agosto do mesmo ano, Göring comemorou o “fim da tortura insuportável e do sofrimento nas experiências com animais” e anunciou sua imediata proibição: “[...] tornei a prática uma ofensa punível na Prússia. Até que o castigo seja proferido, o culpado será alojado em um campo de concentração”.[4] Os historiadores Arnold Arluke e Boria Sax bem definiram a nova política:


Os nazistas aboliram as distinções morais entre os animais e as pessoas, vendo as pessoas como animais. O resultado foi que os animais poderiam ser considerados ‘superiores’ a certas pessoas,

A inversão de valores totalitária permitiu que o regime utilizasse cobaias humanas em campos de concentração. No início de 1942, cientistas do Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais infectaram com tifo os prisioneiros do campo de Neuengamme.


Outro experimento macabro aconteceu em 1944, dessa feita, para a produção de drogas contra a tuberculose. As cobaias: 20 indefesas crianças judias transferidas de Auschwitz. Os testes foram cuidadosamente preservados em séries fotográficas de meninos e meninas com os braços levantados para as lentes. Exibem marcas das incisões cirúrgicas em seus linfonodos axilares, deliberadamente inoculados com o bacilo da tuberculose para que a doença se propagasse velozmente no organismo.[5] Executaram-se todas as crianças sobreviventes em 20 de abril de 1945, pouco antes da chegada das tropas Aliadas, na vã tentativa de ocultar os crimes.



Crianças no campo de Neuengamme exibem as cicatrizes da extração dos linfonodos axilares.


Em meio ao farto repertório de atrocidades durante o conflito, essa monstruosidade forneceu a evidência histórica contundente, irrefutável e suprema do escopo demoníaco associado ao paganismo nazista, confirmando o que o visionário G. K. Chesterton adiantara no distante 1920, ano de fundação do NSDAP (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães): “Onde quer que haja adoração de animais, ali existirá sacrifício humano”.[6]


________________________________ [1] Nazi Germany and animal rights, 1933 Law on Animal Protection. Disponível em: <https://tinyurl.com/y4a8qwh8>. Acesso em: 8 fev. 2019.


[2] Thanks to Hitler, hunting with hounds is still verboten, The Telegraph, 22 set. 2002. Disponível em: <https:// tinyurl.com/yyqnvw7h>. Acesso em: 2 fev. 2019.


[3] Why Germans Nazi Were Big Fans Of Animals Rights, Seattle Times, 1 fev. 1996. “The Fuhrer, ‘Goebbels wrote,’ is deeply religious, though completely anti-Christian, views Christianity as a symptom of decay. Rightly so. It is a branch of the Jewish race … Both (Judaism and Christianity) have no point of contact to the animal element, and thus, in the end, they will be destroyed. The Fuhrer is a convinced vegetarian on principle”.


[4] A lei seria afrouxada tempos depois, permitindo vivissecção de animais sob certas condições. Arnold Arluke, Boria Sax. Understanding Nazi Animal Protection and the Holocaust. Anthrozoos, A Multidisciplinary Journal of The Interactions of People & Animals, 1992, pp. 6-31.


[5] Neuengamme, United States Holocaust Memorial Museum. Disponível em: <https://tinyurl.com/yafuaw7b>. Acesso em: 8 fev. 2019.


[6] G. K. Chesterton, The Uses of Diversity, p. 3.

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